28/02/2012
Manifesto em defesa da humanização do trabalho e das perícias médicas
Escrito por: CUT Nacional
Fruto de luma lógica de trabalho que desconsidera
os limites físicos e psíquicos dos trabalhadores – verificada em todos os
setores produtivos - as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou os Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) constituem-se num dos mais
graves problemas de saúde enfrentados pelos trabalhadores nas últimas décadas no
Brasil e no mundo.
LER é uma terminologia guarda chuva que engloba
várias alterações das partes moles do sistema musculoesquelético devido a uma
sobrecarga que vai se acumulando com o passar do tempo, comprometendo seriamente
- muitas vezes de forma irreversível - os tendões, articulações e músculos. Vão
desde dores musculares (mialgia) e inflamações nos tendões e sinóvias
(tenossinovites) até alterações graves do sistema modulador da dor, responsável
pela regulação da relação entre o estímulo potencialmente provocador da dor e as
reações sensitivas do organismo a esse estímulo
O que a princípio surge como uma sensação de
desconforto, pontadas, formigamento ou dores na execução do trabalho, que se
estendem para os períodos de descanso, acaba evoluindo para dores insuportáveis,
inchaços, atrofias, perda de força muscular e da coordenação motora, Altamente
incapacitante, até tarefas simples como escovar os dentes, pegar um copo e
outros objetos tornam-se impossíveis de realizar. As repercussões na identidade,
na vida profissional, familiar e social dos trabalhadores e trabalhadoras são
devastadoras!
O sofrimento causado por sentimentos de
incapacidade e de inutilidade gerados por esta situação são ainda maiores em
razão do preconceito. Como a doença não tem sinais visíveis, muito menos a dor,
homens e mulheres adoecidos são hostilizados, tratados como mentirosos,
preguiçosos, gente que faz “corpo mole”, etc. tanto no espaço no trabalho, como
por aqueles que deveriam assegurar os seus diretos previdenciários e
trabalhistas.
A via-crúcis percorrida pelo reconhecimento da
doença, tratamento, reabilitação e indenização como acidente de trabalho vai da
empresa - cujos profissionais do Serviço Especializado de Engenharia de
Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), via de regra, culpam o trabalhador
pelo adoecimento e se recusam a emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho
(CAT), – aos peritos do INSS que, salvo exceções, colocam os trabalhadores sob
suspeição como se estivem simulando doenças para “se encostar” no INSS.
Fruto de exigências desmesuradas do trabalho, da
injustiça e do sentimento de desamparo que esta situação toda gera, a depressão
e outros problemas psíquicos são quase inevitáveis entre os trabalhadores
lesionados
Humanização do trabalho deve ser
premissa das ações de prevenção
Nesta data em que se celebra o Dia Internacional
pelo combate às LER-DORT queremos chamar a atenção para a importância da
prevenção e para os direitos dos trabalhadores lesionados.
Conforme estudo realizado pelo Ministério da
Previdência Social (quadro abaixo) as LER DORT atingem todos os setores
produtivos, com grande incidência na agricultura, indústria e setor financeiro,
sendo verificada também no setor de transporte e na construção civil.
Agricultura
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Destaque para Ler/Dort e traumatismos em
geral;
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Indústria
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Maior incidência de Ler/Dort em relação a todos
os outros setores econômicos no período pesquisado. Do total de afastamentos nos
meses de outubro, novembro e dezembro de 2008 – 32.112 casos -, a indústria
liderou as estatísticas com 5.595 casos. Transtornos mentais, traumatismos em
geral, doenças do sistema nervoso, do aparelho circulatório e digestivas
somam-se aos casos de Ler/Dort como de maior incidência nesse
setor;
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Transporte
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Destacam-se os transtornos mentais, as doenças do
aparelho respiratório, LER/Dort (carga e descarga) e acidentes
traumáticos;
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Setor Financeiro
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Transtornos mentais e LER/Dort lideram os
afastamentos;
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Construção Civil
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As notificações acidentárias e de doenças
profissionais estão relacionadas quase que exclusivamente a doenças do aparelho
digestivo, LER/Dort e traumatismos em geral – quedas, choques e
escoriações
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Fonte: Ministério da Previdência Social
A prevenção das LER-DORT passa fundamentalmente
por tornar as exigências do trabalho compatíveis com os limites humanos. Isto
implica em mudanças na base técnica e organizacional do trabalho, em especial na
diminuição da intensidade e dos ritmos de trabalho, que são acelerados por
máquinas e/ou por metas de produção abusivas, sobrecarregando física e
psicologicamente os trabalhadores e trabalhadoras.
Ginástica laboral, premiações (muitas vezes
meramente simbólicas) e outras medidas que algumas empresas adotam tentar dar
uma “cara mais humana” às relações de trabalho não resolvem o problema, se não
houver uma mudança efetiva nas condições que geram o adoecimento. Ritmo e
redimensionamento das metas, adequando-as às possibilidades reais de os
trabalhadores executarem as tarefas são aspectos chaves.
Sabemos que mudar as condições de trabalho que
levam ao adoecimento não é uma tarefa fácil, porque exige mudanças na forma como
o trabalho é organizado, planejado e gerenciado, coisa que patrão nenhum quer
mexer, exceto para ter mais lucros, pois para eles o que interessa é produzir
cada vez mais, com menos trabalhadores, utilizando à exaustão o trabalho
humano.
Sindicato organizado nos locais de trabalho e
estratégias de prevenção e promoção de saúde desenvolvidos com a participação
dos trabalhadores e trabalhadoras são pré-requisitos para humanizar o trabalho e
evitar o adoecimento.
Duas publicações do INST-CUT da série Cadernos de
Saúde do Trabalhador podem ajudar no trabalho neste tema (clique abaixo para ter
acesso):
Lesão
por Esforços Repetitivos – LER, escrito pela Dra. Maria Maeno, Médica,
Pesquisadora da Fundacentro
Prevenção
da LER/DORT: que a ergonomia pode oferecer, escrito pela psicóloga, Prof.
Dra. Regina Heloisa Maciel
O Protocolo de LER, recém produzido pelo
Ministério da Saúde é outra ferramenta importante para esclarecer sobre a doença
e os caminhos para assegurar os direitos. (clique
aqui para download)
É importante, ainda, fazer valer a aplicação da
NR 17 (Ergonomia) e seus anexos, que estabelecem parâmetros para adaptar as
condições de trabalho às características psicofísicas dos trabalhadores e
trabalhadoras.
Humanizar as Perícias Médicas e
garantir os direitos previdenciários
A CUT tem desenvolvido um conjunto de ações pela
humanização das perícias médicas do INSS, cujas condutas, salvo exceções, têm
ido na contramão da boa prática médica e do papel do INSS como seguradora
pública, que deveria ter como premissa o preceito constitucional de seguridade
social e assegurar os direitos previdenciários dos trabalhadores nos momentos em
que mais necessita, que são as situações de afastamento do trabalho por motivo
de doença ou acidente de trabalho.
Contraditoriamente, são freqüentes cessações de
benefícios sem a devida recuperação dos trabalhadores; o não reconhecimento da
relação de causalidade de inúmeras doenças com o trabalho, em especial as
LER-DORT e doenças mentais - que hoje ocorrem em dimensões epidêmicas e são os
principais motivos de afastamento do trabalho - ; o descompasso de tempo entre a
cessação de benefício e a perícia para avaliar um pedido de prorrogação ou de
reconsideração deixando os trabalhadores por meses sem qualquer rendimento; o
descaso e humilhação imputadas por peritos que tratam os trabalhadores como
fraudadores.
A humanização das Perícias Médicas do INSS é uma
reivindicação antiga que visa resguardar os direitos dos trabalhadores,
contribuintes do sistema, e reverter a lógica meramente securitária predominante
no INSS, que coloca os trabalhadores adoecidos sob suspeição de fraude,
imputando-lhes uma trajetória de humilhações em situações que requerem
afastamento do trabalho.
É direito dos trabalhadores a preservação da sua
saúde no trabalho, assim como a reparação dos danos por ele causados, dentre
outras formas, preservando os direitos trabalhistas (férias, recolhimento do
FGTS, cômputo de tempo para aposentadoria, etc.) durante o período de
afastamento por doença do trabalho.
Neste 28 de fevereiro a CUT reitera a Campanha
pela Humanização das Perícias Médicas do INSS e está cobrando do governo medidas
para resolução dos problemas extensamente denunciados em audiências e
pronunciamentos públicos.
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