terça-feira, 16 de julho de 2013

Dia Nacional de Luta e a arte da contra-informação


Por Manoel Ramires
O Dia Nacional de Lutas, convocado pelas principais centrais sindicais, também pode ser acompanhado pelo viés do informar e desinformar. Para aqueles que não participam ativamente do movimento fica difícil de entender qual é a pauta da paralisação. Isso ocorre por dois motivos: um que consiste no foco dado por parte da mídia às paralisações; o outro pelo estilo adotado pelos manifestantes. De todo modo, parece que a mensagem direcionada a massa com as pautas dos trabalhadores não se efetivou, seja nas capitais ou pelo interior.

Uma das tarefas da mídia é informar os motivos de uma paralisação. Ou seja, o que está acontecendo (Dia Nacional de Lutas), onde (os locais) e como (com bandeiras, faixas). Essas respostas podem ser encontradas na maioria das matérias, sejam elas televisivas, de rádio ou escritas. O problema ocorre no momento de se explicar o ‘porquê’ de toda essa movimentação. É neste momento que se estabelece a contrainformação. Em um canal de televisão pago, de uma grande emissora, o foco dado às manifestações tem sido: “ela ocorre de forma pacífica”, “o trânsito foi bloqueado numa importante avenida, atrapalhando o ir e vir”, “rodovias foram fechadas por causa da queima de pneus” e “tal sindicato ignorou a ordem judicial e deve pagar multa milionária”. 


A mesma técnica de focar o outro lado da notícia se repete nos jornais impressos do dia seguinte. São as manchetes: “Novos protestos fecham estradas e ruas pelo país” e “Protestos sindicais afetam país, mas têm baixa adesão” (título se repetiu em três veículo). Ora, tal aspecto da notícia é conseqüência natural das paralisações e não ‘gancho’ do acontecimento em si. Portanto, deveria ser abordado de forma secundária, dando assim, prioridade para a pauta real, que neste caso é a redução da jornada de trabalho, melhoria dos serviços públicos, reformas política, agrária e crítica ao capitalismo. São esses os temas que deveriam ser avaliados pelos trabalhadores na padaria, no salão de beleza, na fila do supermercado, na cancha de futebol. Contudo, a eles, a ‘pauta’ oferecida é o transtorno gerado pelos protestos. Gerando, por fim, a contra-informação.

Por outro lado, a escolha dos assuntos a serem discutidos pela massa se dá pela grande mídia justamente porque o ‘movimento organizado’ não está conseguindo dialogar de forma eficiente com aqueles que estão aquém do embate político, aqueles que dizem que o ‘gigante acordou’ por não perceberem que o conflito se dá em outra instância política e intensidade. No Dia Nacional de Luta, as centrais decidiram optar por seus antigos métodos de mobilização. Parecem que não aprenderam muito com a primavera árabe, que levou milhões às ruas ou até mesmo com os protestos brasileiros a partir de 17 de junho. Ao invés do gogó compartilhado, as centrais mantiveram seus caminhões de som, seu megafone e seu dirigente sindical ‘tocando a manada’ com palavras de ordem. Ou seja, nada que pudesse incentivar a formação de uma multidão a seguir suas faixas e bandeiras. A caravana passou e o povo ficou ... desorientado.

Por tudo isso, a mensagem de unificação da pauta dos trabalhadores ainda requer de energia mais canalizada. Quem sabe ela seja atingida com a grande imprensa dando prioridade a pauta – o motivo da guerra e não os prédios que foram derrubados – e com as centrais adaptando seu discurso aos seus não representados e fortalecimento seus canais de comunicação sindical. São posturas e ações que poderemos observar até outubro de 2014.

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